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VIVÊNCIAS DE MULHERES LÉSBICAS NO ATENDIMENTO EM SAÚDE DA MULHER NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL

14/05/2022| By
Luciane Luciane Alves,
+ 3
Thamy Thamy Soligo
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Keywords
Abstract

Elencar, a partir das narrativas de experiências de mulheres lésbicas coletadas no âmbito da Atenção Primária à Saúde no Distrito Federal, temáticas recorrentes ou prevalentes de problemáticas vivenciadas, com o objetivo de gerar dados que possam subsidiar futuras investigações relacionadas ao tema. Identificar, a partir dos relatos, subsídios para a qualificação de profissionais e para melhorar a gestão em saúde, especialmente na Atenção Primária, relacionada à políticas práticas de atenção qualificada às mulheres lésbicas.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO EUROAMERICANO – UNIEURO

Faculdade de Medicina

Ana Paula Aparecida de Oliveira Gonçalves, Louise Bueno, Luciane Alves de Oliveira, Marcelo Chamoschine e Thamy Soligo











VIVÊNCIAS DE MULHERES LÉSBICAS NO ATENDIMENTO

EM SAÚDE DA MULHER NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL

BRASÍLIA

2022

Ana Paula Aparecida de Oliveira Gonçalves, Louise Bueno, Luciane Alves de Oliveira, Marcelo Chamoschine e Thamy Soligo

VIVÊNCIAS DE MULHERES LÉSBICAS NO ATENDIMENTO

EM SAÚDE DA MULHER NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL











Pré-projeto de pesquisa apresentado como pré-requisito para a conclusão da unidade curricular de Iniciação Científica V do curso de Medicina, Centro Universitário UNIEURO.

Orientador: Prof. Dr. Bruno Pereira Stelet.

BRASÍLIA

2022

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 03
1.1 Justificativa 05
1.2 Objetivos 05
1.2.1 Objetivo Geral 05
1.2.2 Objetivo Específico 05
2 REFERENCIAL TEÓRICO 07
3 MÉTODOS 09
3.1 Delineamento do estudo 09
3.2 Área e população de estudo 10
3.3 Critérios de inclusão e exclusão 11
3.3.1 Critérios de inclusão 11
3.3.2 Critérios de exclusão 11
3.4 Fonte de dados 11
3.5 Variáveis do estudo 11
3.6 Instrumentos, coleta de informação, criação e manejo de dados 11
3.7 Atividades de campo 12
3.8 Análise de dados 12
4 ASPECTOS ÉTICOS 14
5 PLANO ORÇAMENTÁRIO 15
6 PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO 16
REFERÊNCIAS 17
APÊNDICES 19
Apêndice A – Roteiro de entrevista: perguntas norteadoras 20
Apêndice B – Termo de consentimento livre e esclarecido 21

1 INTRODUÇÃO

Debates sobre orientação sexual e identidade de gênero têm ocupado cada vez mais espaço nos diversos locus da sociedade. Além de temas relacionados à superação de preconceitos e de situações discriminatórias, as necessidades específicas destas populações são cada vez mais descortinadas, e revelam urgência para o reconhecimento e o atendimento das mesmas pelas estruturas da sociedade organizada, especialmente através de seus serviços.

Quando referimos a população LGBTQIA+ (Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual, Queer, Intersexo, Assexual e mais) é fundamental esclarecer que não se trata de um grupo hegemônico, muito embora tenham pontos de convergência e histórico de lutas atrelado (ANDRADE, 2020). Ao analisarmos sob o aspecto das necessidades nos cuidados em saúde, estas diferenças são facilmente percebidas, pois tanto as prioridades preventivas como as demandas mais frequentes diferem entre os grupos. Na prática, as ofertas em saúde devem ser individualizadas, considerando as necessidades, a competência cultural dos indivíduos e as particularidades de cada uma destas populações especificamente (GOUVEIA, 2021).

Um dos princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), a Universalidade, determina que todo e qualquer cidadão brasileiro tem direito ao acesso gratuito aos serviços de saúde oferecidos pelo sistema público independente de sua orientação sexual. O Brasil preconiza justiça social, no entanto, em relação a estas populações parece ainda não haver a prática da equidade, que visa garantir reconhecimento e respeito das diferenças entre os grupos (MARQUES, 2022).

Nas estruturas de atenção integral à saúde já há a garantira formal de que existem singularidades importantes que devem ser consideradas para a efetiva assistência destas populações. A Política Nacional de Saúde Integral LGBT, publicada oficialmente em 2011, determina equidade, ampliação de acesso, qualificação da rede de serviços do SUS, prevenção em saúde, garantia de direitos sexuais e reprodutivos, além de oferta de atenção integral na rede de serviços do SUS para a população LGBT. No entanto, carece-se de normatizações ou do conhecimento ou cumprimento delas, bem como, e até mesmo, da adequação na formação de grande parte dos profissionais de saúde para a efetivação prática deste nível de atenção (CALAZANS, 2021).

Especificamente em relação às lésbicas, pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou que mulheres que fazem sexo com mulheres têm menor probabilidade de cuidados em saúde com médicos culturalmente competentes e, por consequência, são mais expostas à condições de complicações em saúde. Atribui a dificuldade à falta de ambiente acolhedor, de ferramentais específicos e, principalmente, ao despreparo técnico e cultural dos profissionais de saúde (JARRETT, 20117).

No caso do cenário brasileiro, não existem publicações que tratem quantitativamente das dificuldades – e suas consequências – nos cuidados de saúde da mulher lésbica que possam gerar análise nos mesmos moldes da americana. As poucas pesquisas disponíveis foram elaboradas na forma de relatos das experiências no ambiente da atenção à saúde, e apontam desconhecimento, negligência ou preconceito entre os profissionais envolvidos sobre como deve ocorrer a assistência integral a elas, especialmente nos cuidados relacionados à saúde da mulher (FALCÃO, 2021).

Os aspectos apontados contemplam desde experiências negativas em consultórios, como reações discriminatórias por parte dos profissionais de saúde, até a falta de especificidade lésbica nos serviços e, por consequência, o não atendimento das demandas do grupo, resultando na descontinuidade do acompanhamento de rotina para a realização de exames preventivos (CARVALHO, 2021) até situações mais complexas e, inclusive, não percebidas ou autopercebidas pela maioria dos profissionais de saúde, como o ato violento de imposição de realização de exame complementar de ultrassonografia por via inadequada, por exemplo (LIMA, 2021).

Logicamente, a capacitação dos profissionais de saúde que, muitas vezes, não foram preparados ou devidamente orientados sobre as características e particularidades destas populações, bem como suas preferências, é um capítulo importante para ser debatido. Neste sentido, o desenvolvimento da competência cultural, que considera as características de cada grupo e suas necessidades específicas, é uma resposta para a superação de barreiras de acesso. Trata-se de um processo constante que se dá através de comunicação significativa efetiva, respeito à identidade cultural e social (GOUVEIA, 2019)

1.1 Justificativa

A inexistência de conhecimento quantitativo ou qualitativo estruturado e o baixo número de publicações que elucidem as dificuldades de mulheres lésbicas no ambiente dos cuidados em saúde da mulher motivam a realização desta pesquisa, que buscará narrativas que resultem na ampliação da compreensão sobre as variáveis envolvidas na relação entre o profissional de saúde e a paciente lésbica.

Entende-se que somente o conhecimento biomédico não é suficiente para que haja efetivo cuidado e uma assistência integrativa e qualificada, então, na investigação serão explorados aspectos como a preferência pela não revelação ao profissional de saúde da condição de ser lésbica e os motivos desta decisão, o fornecimento de orientações adequadas sobre métodos preventivos para relações sexuais, a abordagem das infecções sexualmente transmissíveis, percepções sobre o acolhimento nos serviços de saúde, além de relatos abertos sobre as dificuldades vivenciadas.

Reconhecer as fragilidades no atendimento do público em questão, a partir de narrativas em entrevistas abertas, pode provocar o desenvolvimento de normativas, protocolos ou instrumentos que contribuirão tanto para melhorar a prática dos profissionais de saúde, quando para efetivar a integralidade do atendimento de mulheres lésbicas.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Dar visibilidade às experiências de mulheres lésbicas na busca por cuidados em saúde da mulher no Distrito Federal.

1.2.2 Objetivos Específicos

Elencar, a partir das narrativas de experiências de mulheres lésbicas coletadas no âmbito da Atenção Primária à Saúde no Distrito Federal, temáticas recorrentes ou prevalentes de problemáticas vivenciadas, com o objetivo de gerar dados que possam subsidiar futuras investigações relacionadas ao tema.

Identificar, a partir dos relatos, subsídios para a qualificação de profissionais e para melhorar a gestão em saúde, especialmente na Atenção Primária, relacionada à políticas práticas de atenção qualificada às mulheres lésbicas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O início do processo de luta das mulheres homossexuais remonta da década de 80, quando o Movimento de Lésbicas Feministas começa a reivindicar mais fortemente o seu reconhecimento social (ANDRADE, 2020). Naquele tempo, o contexto da saúde pública ainda não observava estes grupos de forma particularizada. Foi só a partir da disseminação do HIV e, então, da necessidade de medidas protetivas, que o olhar foi direcionado para as comunidades homossexuais. Porém, o foco estava no homem que mantinha relações sexuais com outro homem, sem especificar as necessidades protetivas para mulheres lésbicas (CABRAL, 2017), evidenciando um recorte de invisibilidade mesmo dentro deste contexto de grupo. Além disso, o movimento homossexual, como era primordialmente chamado, vivenciou diversos conflitos, muitos justamente relacionados às mulheres lésbicas não disporem de poder de decisão entre as pautas homossexuais, gerando rompimentos e aproximando as lésbicas dos movimentos feministas (GARCIA, 2018).

A realização do I Seminário Nacional de Lésbicas - SENALE, em 1996, é que publicizou o debate sobre a invisibilidade lésbica, inclusive junto aos movimentos homossexuais, e resultou em gerar força, principalmente, para temáticas sobre a saúde sexual e cuidados específicos desta comunidade, aproximando o diálogo com o Estado. No cenário internacional, os direitos sexuais das mulheres já eram abordados, como na Conferência da Mulher, ocorrida em Beijim no ano de 1995, a qual proporcionou que a sexualidade das mulheres fosse entendida pela primeira vez desvinculada da reprodução humana (GARCIA, 2018). É importante esta identificação de que o apagamento lésbico acontece, além do contexto amplo social, nos próprios grupos da população LGBTQI+ e também no ambiente feminino em geral. Isso reitera a posição do movimento lésbico, em profunda reflexão, como aquele apagado dentro dos grupos apagados.

Identifica-se que um avanço se deu em 2004 com o Programa Brasil sem Homofobia, que contemplou ações de atenção focadas na mulher lésbica em todas as fases da vida, inclusive com previsão de capacitação dos profissionais de saúde para oferta de assistência de maneira adequada. Em seguida, em 2009, o Ministério da Saúde lançou a “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde”, que trouxe orientações sobre o atendimento humanizado, livre de qualquer discriminação, restrição ou negação nos serviços de saúde. Entretanto, já nos anos seguintes surgiram críticas de que, embora o aparato formal existisse, o acolhimento adequado de lésbicas não acontecia na prática e que, por isso, as mulheres não informavam aos profissionais de saúde sobre a orientação sexual – o que também não seria questionada pelos mesmos (HAUER, 2017).

A publicação da Portaria no. 2.836 com a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), em 2011 pelo Ministério da Saúde, consolidou um novo momento em que, formalmente, começou a ser reconhecida da necessidade de se ter um olhar qualificado e ofertar atenção específica para a saúde integral de mulheres homossexuais. Estratégias operacionais da publicação orientam para a busca de informações sobre a orientação sexual e identidade de gênero no ambiente do atendimento e, também, para que o profissional de saúde procure identificar as necessidades específicas de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais com o objetivo de que estes dados possam ser transformados em informações que, posteriormente, subsidiem o planejamento e a definição de prioridades em saúde pública (BRASIL, 2013).

Como citado anteriormente, os registros qualitativos mais recentes sobre as vivências de mulheres lésbicas no ambiente de consulta em saúde da mulher revelam dissonância entre a realidade e as orientações formais. Embora a consulta em saúde da mulher de mulheres lésbicas não necessariamente precisa ser diferente daquela ofertada às mulheres em geral, é fundamental que o profissional de saúde identifique a orientação sexual para que possa promover os cuidados, físicos e integrativos específicos (LIMA, 2021).

3 MÉTODOS

3.1 Delineamento do estudo

O objetivo – e por consequência método – deste projeto de pesquisa está centrado em coletar narrativas de mulheres lésbicas no atendimento de saúde pública, especificamente no que se refere aos cuidados da saúde da mulher. Trata-se de uma proposta de pesquisa que busca produzir conhecimento e informações que possam nortear o desenvolvimento da temática em novos estudos, mais quantitativos ou específicos. Para tanto, do ponto de vista da natureza do estudo, será realizada pesquisa qualitativa do tipo exploratória.

A seleção do tipo de estudo a ser desbravado se deu a partir da contextualização do tema, explorados na introdução e no referencial teórico. Há escassa – ou mesmo inexistente – produção de dados sobre as abordagens práticas à saúde da mulher lésbica no Brasil e, mais primariamente, falta de estruturação temática que aponte objetivamente os principais aspectos dessa realidade. Mas, além disso, há de se considerar a realidade dos ambientes de cuidados em saúde de forma geral, em que a necessidade diária em recriar as práticas é que acabam por gerar os fundamentos teóricos e a legitimidade social (CAMPOS, 2008).

Em sentido sociológico, faz-se necessário considerar a existência de uma relação dinâmica entre os sujeitos e a realidade, o que credencia a técnica qualitativa narrativa que permite que se descreva com complexidade e interação entre as múltiplas variáveis o cenário, possibilitando maior nível de compreensão – inclusive subjetiva – dos processos envolvidos (DIEHL, 2004). Narrativas surgem como resultado da inter-relação das forças sociais, articuladas por relações de poder, política, identidade e contexto, representando a complexa relação entre teoria, discurso social e realidade. Este entrelaçamento é rico e deve ser explorado (CAMPOS, 2008).

Tecnicamente, caracterizar-se-á como uma pesquisa participante, em que haverá interação entre pesquisadores e entrevistados, visto que este método lida, principalmente, com insights subjetivos, considerando ideias, opiniões e percepções do entrevistado, aspectos valiosos para a composição da análise final (CRESWELL, 2014).

3.2 Área e população de estudo

Porta de entrada para qualquer tipo de procedimento na rede pública, a Atenção Primária à Saúde no Distrito Federal, em 2021, registrou 2.672.795 atendimentos individuais, sendo 1.765.000 destes para o sexo feminino (AGÊNCIA BRASÍLIA, 2022). Dados sobre a orientação sexual destas usuárias não estão disponíveis, tornando dificultosa qualquer forma de estratificação do território.

Além disso, para pesquisa do tipo qualitativa, que objetiva alcançar a compreensão sobre razões ou motivações sobre a temática em estudo, é suficiente a abordagem de pequeno público para composição da amostra (MALHOTRA, 2001). Embora não se relacione com uma representação estatística quantificável, este tipo de amostra é importante para trazer à luz espectros da realidade muitas vezes desconhecidos, à medida que permite um tipo de escuta qualificada, sensível e exploratória.

Considerando estes dois aspectos, a população do estudo será composta por mulheres lésbicas acolhidas pela ONG Casa Rosa, localizada em Sobradinho, no Distrito Federal, usuárias do Sistema Único de Saúde, especificamente na Atenção Primária em Saúde. A opção pela instituição se dá pela pluralidade do público que a frequenta, especialmente em sentido territorial, notadamente usuário do sistema público.

A ONG foi criada em 2017 e atende ao público LGBTQIA+ por meio de atendimento psicológico, abrigo temporário e oferta de atividades de integração profissional. Dispõe de espaço de acolhimento, onde são realizadas oficinas culturais e profissionalizantes, além de acompanhamento de saúde e educacional aos atendidos, visando a reinserção social de seu público. Atualmente, conta com 70 voluntários e atende entre 30 e 34 pessoas diariamente advindas de realidades diversas.

3.3 Critérios de inclusão e exclusão

3.3.1 Critérios de inclusão

- Mulheres lésbicas usuárias da atenção básica de saúde no DF.

3.3.2 Critérios de exclusão

- Mulheres bissexuais;

- Mulheres não usuárias da atenção básicas de saúde no DF.

3.4 Fonte de dados

Dados primários, coletados através de entrevistas presenciais, verbalizadas, individualizadas.

3.5 Variáveis do estudo

Serão geradas variáveis politômicas, visto que a abordagem dar-se-á por entrevista inicialmente orientada por questionário, mas com espectro de fala livre. Ou seja, serão coletadas experiências e vivências individuais, que podem gerar recorrência de temáticas objetivas ou de percepções a serem agrupadas posteriormente.

3.6 Instrumentos, coleta de informação, criação e manejo de dados

A coleta das narrativas será realizada através de entrevistas pessoais, individuais e em profundidade. O pesquisador contará com roteiro semiestruturado para que se consiga iniciar a abordagem, atingir todos os aspectos propostos e, principalmente, criar o espaço da fala livre, que permitirá o compartilhamento das experiências, dificuldades e percepções sobre o atendimento em saúde da mulher vivenciado pelas mulheres lésbicas pesquisadas.

A partir do consentimento formal por parte das participantes, a entrevista será gravada em áudio, um método considerado ideal para entrevistas individuais e em profundidade, e também serão feitas anotações por parte do pesquisador, que servem como contra verificação posterior das informações e dados coletados (LAKATOS, 2008).

O roteiro de entrevista disponibilizado ao pesquisador contará com os eixos identificação, que permitirá a qualificação das entrevistadas sem o comprometimento do anonimato; pergunta de inclusão, que serve como filtro de inclusão e exclusão conforme já exposto; perguntas introdutórias, que buscam ilustrar a relação da entrevistada com o objeto em estudo; e perguntas de seguimento, que devem nortear o desenvolvimento da conversa, sem prejudicar o espaço livre de fala.

3.7 Atividades de campo

A pesquisa qualitativa, especialmente em profundidade, pressupõe ser realizada no ambiente do entrevistado, o ambiente natural, e tem o pesquisador como instrumento chave da coleta, que deve ter raciocínio complexo para transitar entre o dedutivo e o indutivo, sendo capaz de perceber a comunicação não verbal, identificar objetivos de fala do entrevistado e, ao mesmo tempo, não interferir nas opiniões do mesmo (CRESWELL, 2014). O objetivo é que foque na perspectiva dos participantes e esteja situado dentro do contexto dos participantes.

3.8 Análise de dados

A pesquisa qualitativa é fundamentalmente interpretativa. Isso significa que o pesquisador faz uma interpretação dos dados. Isso inclui o desenvolvimento da descrição de uma pessoa ou de um cenário, análise de dados para identificar temas ou categorias e, finalmente, fazer interpretação ou tirar conclusões sobre seu significado, pessoal e teoricamente, mencionando as lições aprendidas e oferecendo mais perguntas a serem feitas (CRESWELL, 2014).

Isso também significa que o pesquisador filtra os dados através de uma lente pessoal situada em um momento sociopolítico e histórico específico. Não é possível evitaras interpretações pessoais, na análise de dados qualitativos.

A narrativa abre-se à interpretação ao mesmo tempo em que estabelece condições para sua circulação, recepção e produção. Assim, articula relações de poder, políticas, identitárias, do contexto, percebidas tanto diacrônica quanto sincronicamente, o que denota a complexa relação das narrativas com os discursos sociais (CAMPOS, 2008).

4 ASPECTOS ÉTICOS

Este projeto de pesquisa será desenvolvido com base fundamental na proteção dos entrevistados e geração de dados relevantes para a temática. Deverá ser submetido à análise do Comitê de Ética do Centro Universitário UNIEURO para validação dos métodos e procedimentos escolhidos. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será entregue aos participantes, que ficarão de posse de uma cópia permanecendo a outra com o pesquisador. No documento constarão informações sobre as condições da pesquisa e garantias de proteção do entrevistado.

O material coletado, na forma de escrita e em gravação de áudio, que tem o propósito de contraprova das informações, ficará de posse do pesquisador e equipe de consolidação de dados, sem exposição da identidade do entrevistado. A pesquisa não oferecerá qualquer dano à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual aos participantes, seja direta ou indiretamente. Todos serão tratados com dignidade e confidencialidade, de modo que o anonimato será mantido e assegurado.

No que se refere aos benefícios gerados, o presente projeto propõe-se a subsidiar o debate acerca das dificuldades enfrentadas por mulheres lésbicas no atendimento em saúde na Atenção Primária, especialmente relacionado à ginecologia. Conforme já citado e exemplificado ao longo deste projeto, a carência de dados que possam sustentar o desenvolvimento de políticas públicas, protocolos e preparação dos profissionais envolvidos, justifica a importância da exploração mais aberta da temática, com a captação de informações que possam contribuir para a criação indicadores a serem investigados.

5 PLANO ORÇAMENTÁRIO

Item Valor Unitário Quantidade Valor Total
Materiais de consumo Gravador digital R$ 200,00 02 R$ 400,00
Bloco de Notas R$ 10,00 10 R$ 100,00
Canetas R$ 1,00 10 R$ 10,00
Impressões R$ 0,25 1.000 R$ 250,00
Pasta Simples R$ 5,00 10 R$ 50,00
Encadernação R$ 20,00 10 R$ 200,00
Pessoal Transporte equipe R$ 50,00 10 R$ 500,00
Alimentação equipe R$ 30,00 20 R$ 600,00
TOTAL R$ 2.110,00

6 PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

2021 2022 2023
Atividade Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Delimitação do Problema X
Revisão Bibliográfica X
Finalização do Projeto de Pesquisa X
Apresentação para banca X
Submissão ao Comitê de Ética X
Coleta de dados X
Análise de dados X
Apresentação dos resultados X
Publicação de artigo X

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Juliane. et al. Vulnerabilidade de mulheres que fazem sexo com mulheres às infecções sexualmente transmissíveis. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 25, n. 10, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.03522019. Acesso em: 18 ago. 2021.

GOUVEIA, Eneline A.H. et.al. Competência Cultural: uma Resposta Necessária para Superar Barreiras de Acesso à Saúde para Populações Minorizadas. Revista Brasileira de Educação Médica [online]. v. 43, n. 1, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v43suplemento1-20190066. Acesso em: 05 nov. 2021.

MARQUES, Antonio Manual [et.al] A população lésbica em estudos da saúde: contributos para uma reflexão crítica. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v.18, n.7, 2013. Disponível em: http://doi.org/10.1590/S1413-81232013000700019 Acesso em 31 mar. 2022.

CALAZANS, Gabriela [et.al] Políticas de Saúde LGBTQIA+ no Sistema Único de Saúde e na saúde suplementar. Saúde LGBTQIA+ práticas de cuidado transdisciplinar. São Paulo: Manole, 2021.

JARRET, D.; KNIGHT, D.A. Preventive health care for women who have sex with women. Am Fam Physician [online]. v.95, n.3, p.314-321, 2017. Disponível em: http://www.aafp.org/afp/2017/0301/p314.html. Acesso em 28 mar. 2022.

FALCÃO, Marcia Thereza Couto. et.al. Vivências de atendimentos ginecológicos por mulheres lésbicas e bissexuais: (in)visibilidades e barreiras para o exercício do direito à saúde. Saúde e Sociedade [online]. v. 30, n. 1, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902021181062. Acesso em: 05 set. 2021.

CARVALHO, Laudenize; PHILIPPI, Miriam. Percepção de lésbicas, gays e bissexuais em relação aos serviços de saúde. Revista Universitas Ciências da Saúde – Centro Unificado de Brasília [online], v.11, n.2, p.1-10, 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5102/ucs.v11i2.1837. Acesso em: 15 set. 2021.

LIMA, Michael Augusto Souza; SALDANHA, Ana Alayde Weba. (In)visibilidade Lésbica na Saúde: Análise de Fatores de Vulnerabilidade no Cuidado em Saúde Sexual de Lésbicas. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. v.40, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-3703003202845. Acesso em: 17 ago. 2021.

CABRAL, Letícia da Silva. et.al. Homossexualidades femininas no contexto dos sistemas de informação de saúde. Revista de Enfermagem Ufpe [online]. v.4, n.11, p-1699-1707, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/download/15267/18069#:~:text=As%20informa%C3%A7%C3%B5es%20acerca%20das%20mulheres,s%C3%A3o%20referentes%20ao%20HIV%2FAIDS. Acesso em: 14 set. 2021.

GARCIA, Natalia de Palma Rosa. A Saúde de mulheres lésbicas: breve discussão acerca dos avanços e limites que perpassam os cuidados em saúde de lésbicas no Brasil. Anais do XVI Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social [online]. 2018. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/abepss/article/view/25083. Acesso em: 15 set. 2021.

HAUER, Mariane. Saúde de Mulheres Lésbicas na Atenção Primária: Expectativas de Usuárias do Sistema Único de Saúde. 1Seminário Internacional Fazendo Gênero - 11& 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos) [online]. 2017. Disponível em: http://www.en.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1499386647_ARQUIVO_SaudedemulhereslesbicasnaAtencaoPrimariaexpectativasdeusuariasdoSistemaUnicodeSaude.pdf. Acesso em: 15 set. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília: 1. ed., 1. reimp. Ministério da Saúde, 2013. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf. Acesso em: 25 ago. 2021.

CAMPOS, R.T.O.; FURTADO, J.P. Narrativas: utilização na pesquisa qualitativa em saúde. Rev. Saúde Pública [online]. v.6, n.42, p.1090-1096, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-89102008005000052 . Acesso em: 29 mar. 2022.

MALHORTA, N. Pesquisa de Marketing: uma Orientação Aplicada. 3ª Edição. Bookman: Porto Alegre, 2001.

MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Metodologia do trabalho científico. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.

CRESWELL, J.W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO PARA ENTREVISTA: PERGUNTAS NORTEADORAS

  1. Identificação

- Idade, cor/raça, estado civil, profissão, local de moradia no Distrito Federal.

  1. Pergunta de inclusão

- Você é usuária do SUS (Atenção Primária em Saúde) no Distrito Federal?

  1. Perguntas introdutórias

- Você é usuária da Atenção Primária em Saúde no Distrito Federal para os cuidados específicos de ginecologia da mulher? Quais serviços usa (identificar a unidade de saúde, medicamentos, vacinação, exames, consultas em geral)?

- Você revela sua orientação sexual ao (à) médico (a)? Em caso positivo, é espontaneamente ou por se questionada pelo mesmo? Em caso negativo, por qual motivo?

  1. Perguntas de seguimento

- Como é sua rotina para este tipo de atendimento?

- Relato sobre experiências: pontos positivos e/ou negativos; fala aberta sobre vivências. Ganchos de seguimento: “conte-me mais”.

- Você lembra de alguma situação específica (positiva ou negativa) de algum destes atendimentos à saúde? Gostaria de contar sua história?

- Qual é a principal demanda em saúde da mulher da entrevistada?

- Faz exames preventivos?

- Sente-se integralmente atendida? Suas demandas são resolvidas? Ampliar fala.

- Como avalia o atendimento, em geral, por parte dos profissionais de saúde?

- Quais elementos considera para dizer se foi um bom profissional de saúde para questões de saúde da mulher

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) referente ao projeto de pesquisa intitulado(a) VIVÊNCIAS DE MULHERES LÉSBICAS NO ATENDIMENTO EM SAÚDE DA MULHER NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL.

Fui informado(a), ainda, de que a pesquisa é coordenada pelos estudantes de medicina Ana Paula Aparecida de Oliveira Gonçalves, Louise Bueno, Luciane Alves de Oliveira, Marcelo Chamoschine e Thamy Soligo, que poderei contatar / consultar a qualquer momento que julgar necessário.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é identificar experiências vividas por mulheres lésbicas no atendimento ginecológico no âmbito na Atenção Primária de Saúde.

Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevista semi-estruturada a ser gravada a partir da assinatura desta autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo(a) pesquisador(a) e/ou seu(s) orientador(es) / coordenador(es).

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos.

Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Brasília, ____ de _________________ de _____

Assinatura do(a) participante: ______________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a): ____________________________

Assinatura do(a) testemunha(a): ____________________________

Submitted by14 May 2022
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