De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão pós parto (DPP), também conhecida como puerperal, é uma condição de profunda tristeza, desespero e falta de esperança que acontece nas primeiras quatro semanas após a realização do parto e que traz inúmeras consequências ao vínculo da mãe com o bebê, sobretudo no que se refere ao aspecto afetivo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020) Muitas são as causas para que se instale o quadro de DPP, muitas vezes o parto é marcado por intensa tensão, dor e intercorrências, o que contrapõe a idealização feita pela gestante. Além disso, há diversas alterações metabólicas desde o início da gestação, o que contribui para algumas mudanças comportamentais na gravidez. Após o nascimento os desafios relacionados à amamentação , a adaptação com o sono instável do recém nascido e as dúvidas acerca do cuidado diário com o filho geram um sentimento de desamparo e despreparo, o que posteriormente pode contribuir para gerar um quadro depressivo (CAMPOS, RODRIGUES, 2015) Estudos demonstram que as dificuldades relatadas pelas mães durante a gestação se tornam ainda mais intensas no período puerperal. Essas dificuldades comprometem o desempenho das funções maternas e prejudicam as relações mãe-bebê, principalmente nos 6 primeiros meses após o parto (MUNHOZ, SCHMDT, FONTES, 2015) Há uma constante dualidade entre os sentimentos de acolhimento e proteção que provêm do instinto materno e os sentimentos causados pelo quadro de DPP. Nesta doença a mãe pode apresentar sintomas como: momentos de muito stress, ataques de raiva, humor deprimido, insônia, agitação, irritabilidade persistente, sentimento de desinteresse, insegurança de ficar a sós com seu filho, excesso de culpa e sentimento de inutilidade. Entretanto, tais sintomas podem ser ainda mais exacerbados gerando comportamentos agressivos, rejeição ao filho e até ideação suicida. Vale ressaltar que o comportamento e sentimentos vividos pela mãe se estendem para além da relação mãe e filho e tem desdobramentos nos âmbitos da vida familiar, social, profissional e afetiva (SANTOS, 2022). A formação de relação entre mãe e filho é um processo, portanto não ocorre de modo imediato, é necessário o estabelecimento de vínculos para que se promova a construção de uma interação cada vez mais profunda entre eles (ALVES, SILVIA, 2021) Para Winnicott (1987-1999) amamentar vai além de um ato de alimentação, mas também constitui uma importante forma de estreitar o processo de comunicação entre mãe e filho. Esse ato de aleitamento é de grande importância para a saúde mental da mãe e do bebê. É um momento em que a criança é olhada, tocada de maneira carinhosa, alimentada e embalada, logo adquire confiança na mãe. A DPP ocasiona uma ruptura no estabelecimento desse vínculo, o que poderá impactar no futuro da criança (NUNES, 2015) No que tange às consequências da DPP na relação entre a mãe e o bebê deve-se estar ciente que a desestruturação desse vínculo atinge negativamente o desenvolvimento emocional e cognitivo do bebê. Tais bebês apresentam baixo desempenho em testes de desenvolvimento aos 12 meses, apresentando dificuldades para se envolver emocionalmente com outras pessoas, não regulando de modo adequado seus estados afetivos. Crianças filhas de mães que passaram pela DPP, quando comparadas com crianças de mães sem DPP, demonstram maiores quadros de ansiedade, sorrisos e comunicação visual menos frequentes, choros mais corriqueiros e grande desatenção. Esses sinais são ocasionados como consequência à troca deficitária entre mãe e filho nos primeiros meses de vida (GONÇALVES, SILVA, PRETO, 2020). Por fim, é válido destacar que, apesar de se observar um aumento de estudos relacionados com a depressão pós parto nos últimos anos, esse tema ainda não possui sua devida importância. Tal panorama pode ser exemplificado pelo baixo índice de rastreamento da DPP . Desse modo, é necessário se questionar o motivo do baixo encaminhamento das mulheres diagnosticadas por DPP ao atendimento psiquiátrico, sendo uma possível causa o estigma relacionado às doenças psiquiátricas na gravidez e no pós-parto (FEBRASGO,2020).
Show LessFerreira, M., Borges, A., Barros, A., Juntolli, A., Freire, B. & Dios, C. (2023). CONSEQUÊNCIAS DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO NA RELAÇÃO ENTRE MÃE E FILHO [version 1] [preprint]. Evidence-Based Medicine at Unieuro (EBMU).
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